Título: Mulher Africana (Negra)
Técnica: Óleo sobre tela
Ano: 1641
Dimensões: 265x178 cm.
Local: Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague.
As representações naturalistas de Albert Eckhout documentam a fauna, a flora e os tipos étnicos que habitavam Pernambuco no período, a exuberância da floresta, as formas, as cores e a intensa luz dos trópicos, que desde os primórdios da colonização extasiou os europeus, foram retratadas no quadro, que contém uma mulher negra, uma criança e a natureza exuberante à sua volta em primeiro plano.
A mulher adornada com um colar de coral e outro de perolas, pingentes e brincos além de uma pulseira de ouro e na cintura um cachimbo semelhante ao dos holandeses. Ela, aparentemente, não é uma escrava, a julgar pelos seus adornos que pendem pérolas barrocas. A Europa se faz presente, neste detalhe de bijuteria, tal como no cachimbo holandês que traz à cintura. Esta mulher porta ainda um chapéu cônico oriental, e um cesto africano que suporta na mão direita, oferecendo frutas tropicais do Brasil: mamão, banana, laranja. Seus pés descalços apontam para a África e também para a escravidão, embora não pareça escrava. A negra e tropical fita o espectador do fundo do seu mistério, tem no seu corpo um espaço de encontros de culturas.
O menino que tem à sua esquerda, e sobre cuja cabeça tem sua mão pousada, num gesto ao mesmo tempo de proteção e de propriedade, mulato, tem a pele menos escura e os olhos mais claros que os da mãe, a mostrar que a negra tem um pé na casa grande dos brancos. Nas mãos do menino, uma espiga de milho, alimento de escravos, e também uma ave. Em torno de seu pescoço, um pequeno colar, lembrando uma guia de santo, atributo dos crentes da religião afro-brasileira.
A mulher negra é cercada por uma vegetação tropical e, sobretudo brasileira, composta de palmeiras, coqueiros, árvore de abacaxi, cactus. Tudo a indicar o nordeste brasileiro. Em um segundo plano, uma paisagem de praia, com os recifes ao longo do mar. Na praia, a atividade da pesca. Nesta cena, o elemento que faltava deste processo de miscigenação cultural: indígenas.
Mas o foco central da cena neste mundo mestiço é a mulher negra, senhora dos segredos. A cor, o formato e o tamanho das nuvens podem nos dar indicações do tempo meteorológico.
A mulher negra de Eckhout parece não só ofertar frutos tropicais dentro do cesto que porta na mão direita como ela própria se oferece ao olhar do espectador, cheia de promessas e de significados. Ela parece sugerir a presença de algo totalmente novo, presente na mestiçagem.
Este olhar europeu a percorrer terras distantes já vinha carregado de sentidos e preconceitos – pois não havia olhar ingênuo nestes passantes. Era uma espécie de paraíso tropical, indo ao encontro, talvez, de mitos muito antigos, que persistiam desde os tempos da descoberta do Brasil.